Primeira viagem diplomática de SAR D. Duarte Nuno, como legitimo sucessor à Coroa portuguesa- Outubro de 1935

04-09-2010 02:30

Após a morte de seu primo D. Manuel II, ocorrida inesperadamente em Londres, a 2 de Julho de 1932 — o Senhor D. Duarte Nuno de Bragança, já então por muitos monárquicos considerado legítimo soberano de Portugal, como representante do ramo dinástico do Rei D. Miguel I, passou a ser reconhecido também por todos os outros, visto o falecido monarca não ter deixado sucessão e na Sua Pessoa se reunirem as condições necessárias para ficar investido naquele direito.

Assim definida a posição do Senhor D. Duarte II no quadro da política nacional, tornava-se oportuno que também no quadro da política internacional se fizesse conhecer como Pretendente ao trono português.

Já dentro desta ordem de ideias, o mesmo Senhor, logo a seguir ao falecimento do Rei D. Manuel, comunicou às diversas Cortes europeias que representava a chefia incontestada da Casa de Bragança, com os direitos e deveres que lhe são inerentes. E desde logo formou o projecto de, no primeiro ensejo, Visitar alguns soberanos e outras pessoas reais que os laços de parentesco, razões de política nacional ou afinidades de qualquer ordem especialmente indicassem.
Esse ensejo não se fez esperar — e, no ano findo, tudo se preparou para que El-Rei empreendesse, sob os melhores auspícios, a viagem de tão largo alcance, cujo relato seguidamente Vamos fazer.


Nos primeiros dias de Outubro de 1935, partiu o Senhor D. Duarte de Seebenstein para Paris, onde o esperava o Sr. Visconde do Torrão, que devia acompanhar El-Rei como seu camarista na viagem em projecto. Hospedou-se no Hotel Cayré's, no Faubourg Saint-Gérmain, residência habitual na capital francesa da Imperatriz Zita, de Áustria, e dos príncipes de Bourbon e Parma.

A 15 do mesmo mês, seguiu Sua Majestade para Londres, hospedando-se no Hotel Mayfair, situado no bairro aristocrático da capital inglesa, em Berkeley-Square.

Nos primeiros dias da sua estada em Inglaterra efectuaram-se Várias diligências preparatórias das Visitas à Família Real. Entretanto, recebeu o Senhor D. Duarte várias personalidades eminentes, que desejavam apresentar-lhe homenagens, entre as quais a escritora Miss Tennyson, que lhe ofereceu alguns dos seus trabalhos históricos e a quem El-Rei teve prazer em receber para agradecer os seus bons serviços de outros tempos, a favor dos presos políticos monárquicos. Também, a 15 de Outubro, o Senhor D. Duarte jantou com a Princesa austríaca Mathilde Windischgraetz, acompanhado de seu camarista. No dia seguinte, foi ao aeródromo e fábrica de aviões de Reading onde Sua Majestade já tinha tido oportunidade de tripular um avião e de fazer vários exercícios de acrobacia aérea. Ali, depois de visitar as fábricas e hangars, e de assistir a diversos voos, foi-lhe oferecido um chá por um dos directores. Na semana imediata, Lord Herbert, eqtierry do Duque de Kent, convidou o Senhor D. Duarte, em nome daquele Príncipe, para um almoço na sua residência. A esse almoço que se realizou no dia 28, e decorreu numa atmosfera de expressiva simpatia, assistiram : a Princesa Nicolau da Grécia, mãe da Princesa Marina, o Príncipe Paulo, Regente da Jugo-Eslávia, a Princesa sua mulher,, e uma Princesa Russa, tendo sido dado a El-Rei o lugar de honra.No decorrer da conversa, o Senhor D. Duarte prestou homenagem á solicitude com que a Princesa Nicolau, filha do Qrão-Duque Vladimiro da Rússia, acolhia e protegia os refugiados políticos moscovitas, referência que muito a sensibilizou.

A 29, os Reis de Inglaterra, por intermédio do seu Mordomo-Mór, convidaram Sua Majestade para almoçar no Palácio de Buckingham na quinta-feira, 31.

O Senhor D. Duarte ficou á direita de S. M. a Rainha Mary e, nos outros lugares, S. M. Jorge V, seu filho, o Duque de Qloucester e a noiva deste, Lady Alice Scott. Os soberanos britânicos manifestaram sempre ao seu hóspede a mais significativa cordealidade, e, durante o almoço, como o Príncipe de Bragança passasse a exprimir-se em francês, Jorge V disse-lhe: «Peco-lhe que fale antes em inglês, porque espero que venha aqui mais Vezes e assim habituar-se-á melhor à nossa língua».
Depois do almoço, a Rainha recordou que sua Avó, Duquesa de Kent, conhecera e estimara o nosso Rei D. Miguel I, quando da estada deste em Londres. Pediu depois ao Senhor D. Duarte que escrevesse a sua assinatura num livro de aniversários, onde tinha reservado uma página especial na qual já tinha escrito, pela sua mão, a data do nascimento daquele Senhor, 25 de Setembro.
Depois de larga e intima conversa, repassada de afectuosos sentimentos, não só quanto á pessoa de El-Rei mas quanto a Portugal e á secular aliança que une o nosso país á Grã-Bretanha,ro Rei Jorge V acompanhou o seu Augusto convidado através de algumas salas e saudou-o, na despedida, com provas de deferência que os monarcas ingleses só costumam dispensar a pessoas de grande categoria oficial.

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